domingo, 12 de maio de 2013


Auxílio para tratamento de dependentes de crack será dado por seis meses, diz secretário


Rodrigo Garcia, da Secretaria de Desenvolvimento Social de São Paulo, afirma que as prefeituras selecionarão os beneficiados pelo programa. A bolsa mensal de R$ 1.350 será repassada a clínicas de reabilitação conveniadas

MOBILIDADE Os “noias”, como são conhecidos os usuários de crack, numa rua do bairro dos Campos Elíseos, na região central de São Paulo. Com o esvaziamento da Cracolândia, eles migraram para áreas vizinhas (Foto: Fabio Braga/Folhapress)












 Os dependentes de crack que forem inscritos no Cartão Recomeço do Governo do Estado de São Paulo vão receber o auxílio de R$ 1.350 mensais por até um semestre. O valor deverá ser repassado diretamente às clínicas de reabilitação conveniadas. Inicialmente, o programa será implantado em parceria com 11 prefeituras, segundo informou nesta quarta-feira (8) a ÉPOCA o secretário de Desenvolvimento Social de São Paulo, Rodrigo Garcia. O lançamento do cartão está previsto para quinta-feira (9), como noticiou com exclusividade o site de ÉPOCA. “A expectativa é que os primeiros pacientes comecem a ser tratados em 60 dias”, afirma. 
Segundo Garcia, a rede municipal de saúde vai determinar que pacientes estão aptos a receber o benefício e encaminhá-los a clínicas de tratamento conveniadas. “Trata-se de um modelo social de recuperação”, diz o secretário. O paciente vai morar nessas clínicas, onde vai participar de atividades laborativas e de fortalecimento de vínculos orientadas por psicólogos e assistentes sociais. “É uma preparação para conseguir voltar pra casa”, afirma. “Quem seleciona (os pacientes), acompanha e monitora (o tratamento) é o município. Quem paga é o Estado.”
“O Cartão Recomeço terá uma função bastante específica e está longe de ser um ‘bolsa crack’”, diz Ronaldo Laranjeira, que faz parte do grupo de psiquiatras que participou da idealização do programa. Iniciativas semelhantes à que será implantanda em São Paulo ganharam, em outros Estados, o apelido de “bolsa crack”, em alusão ao “bolsa-família” – benefício em dinheiro concedido a famílias brasileiras de baixa-renda.
“O dinheiro do auxílio mensal só poderá ser usado, exclusivamente, para o pagamento de serviços prestados por clínicas de reabilitação conveniadas para recuperação dos pacientes. Não é para comprar roupa, alimentos, etc.”, afirma Laranjeira. Existem vários tipos e graus de dependência. Ele diz que nem sempre a internação é adequada para determinado paciente, nem é o tratamento final.” É necessário todo um processo de recuperação, até mesmo pelo fato de as recaídas serem comuns”, afirma. “Esse dinheiro vai tornar possível que as famílias dos viciados proporcionem, sob supervisão médica, o tratamento necessário para seu parente.”  
Para Laranjeira, o Cartão Recomeço pode ser entendido como uma estratégia do governo, ainda sem estrutura de clínicas e centros de tratamento próprios suficientes, de oferecer de forma descentralizada auxílio às famílias de dependentes químicos que estiverem dispostos a se tratar. “A dependência química, especialmente quando se trata do crack, é uma doença complexa que precisa de um tratamento complexo.” Segundo Laranjeira, o propósito do programa está em seu nome, Recomeço. A medida deve ampliar a rede de tratamento a dependentes do crack, criando um ambiente que o acompanhe em seu longo processo de recuperação. “O tratamento (de dependentes de crack) é caro, demorado e desgastante para o paciente e sua família”, diz.  
Para o psiquiatra José Moura Neves Filho, especialista na gestão de saúde mental e que não esteve envolvido na idealização do programa, R$ 1.350 é um valor baixo para custear o tratamento nas clínicas de reabilitação, de acordo com o que foi divulgado até o momento sobre o programa. “Só a diária em uma clínica mediana de reabilitação costuma girar em torno de R$200. Fora todos os custos, já que é um tratamento demorado e custoso”, diz. “Se o auxílio fosse destinado a outras necessidades, como alimentação e moradia para o período pós-internação para os usuários sem-teto, por exemplo, o cartão seria mais útil.” O secretário Rodrigo Garcia defende que, com o valor do auxílio, é possível, sim, custear esse tipo de tratamento.  
Neves diz que o essencial é a criação de uma rede de tratamento mais abrangente, que ampare tanto as necessidades de tratamento médico (internação, assistência laboratorial e acompanhamento durante a recuperação), como as condições para que o dependente se recupere, como comida e um lugar para morar – no caso de viciados que estavam na rua. Ele cita o exemplo de um paciente que, depois do período de internação, recai. “A rede de atendimento deve ser estruturada de tal forma que o viciado consiga atendimento rápido e perto de casa, a cada recaída.”   
Os idealizadores do Cartão Recomeço afirmam que o programa deverá incentivar indiretamente a criação de novos centros especializados e a modernização dos já existentes, uma vez que o repasse da verba só poderá ser usado em instituições credenciadas.

fonte: época

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