Criminalidade infantil: com medo da morte,
menores desistem do tráfico
Aos 12 anos, W. trocou a pipa e a bola de futebol pelas armas e radiotransmissores. Nascido e criado no Morro dos Prazeres, em Santa Teresa, o jovem, ambicioso, abriu mão da infância para fazer parte do exército do tráfico. O medo de ser morto por policiais, ou até mesmo por seus antigos comparsas, no entanto, fez com que largasse a vida dedicada às drogas.
— É muito olho grande. Tive medo de quererem me apagar, aí entreguei tudo — conta W.
Capturado pela polícia apenas uma vez, o adolescente garante que hoje, aos 16 anos, não voltará ao crime. Hoje, o índice de reincidência dos menores infratores no Rio é de 70%.
Numa rotina de desespero, a mãe de W. costumava rodar o Morro dos Prazeres todos os dias para procurá-lo. Sabia que havia algo de errado. A certeza veio no aniversário de 14 anos do filho, quando a família esperava, na casa de uma tia, a sua chegada. Preocupada, a mãe saiu em busca do jovem.
— Dei de cara com ele armado, com um radinho na mão e uma mochila com drogas. Fiquei sem chão. Chorei muito. Mesmo assim, ele continuou no ‘movimento’. Eu não tinha mais controle.
Sonho de ser militar
W. não passava necessidades. Entrou no tráfico porque queria dinheiro para gastar com roupas de grifes, como Oakley e Hurley. E também em bebidas, nos bailes funk. Agora, repete que não pensa mais nisto, como se quisesse convencer a si mesmo.
— Tenho o sonho de seguir carreira militar. Quero entrar no Exército. Só preciso mesmo de uma oportunidade — diz o adolescente.
Para Jaílson de Souza Silva, do Observatório de Favelas, em pouco tempo, o glamour que atrai os jovens para o tráfico dá lugar ao medo.
— O tráfico de drogas envolve violência e grandes disputas. Os garotos começam a sentir isto e sentem vontade de abandonar a vida criminosa. É uma realidade dura, e eles vão percebendo isso. Por isso, há grande rotatividade.
‘Não aguento mais este sofrimento’
A empregada doméstica A. já perdeu as contas de quantas vezes saiu em busca do filho de 12 anos. Moradora de Antares, ela admite que o filho já foi apreendido após ser flagrado roubando e vendendo drogas.
– Já tem uma semana que não sei onde está meu filho. Não é a primeira vez que ele some, e eu, sempre, fico igual a uma doida atrás dele. Vim na delegacia (DPCA), mas aqui ele não está. Agora, me pediram pra procurar neste lugar aqui (Vara da Infância e Juventude). Já não aguento mais este sofrimento. Uma vez, ameacei prender ele em casa para ver se parava de fazer besteiras, mas não tive coragem. É só eu sair para trabalhar que ele vai para a rua aprontar. Meu filho precisava era de um pai presente para puxar a orelha dele.
fonte: jornal extra
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