terça-feira, 23 de abril de 2013

Libertação de Maníaco do Anchieta causa revolta em vítimas


Libertação de Maníaco do Anchieta causa revolta em vítimas




“Estou com muito medo até de sair de casa. Agora, é eu que estou presa e o agressor nas ruas”. Essa foi a reação de uma das 16 mulheres que acusam de crime sexual o ex-bancário Pedro Meyer Ferreira Guimarães, de 56 anos, ao saber que ele foi posto em liberdade pela Justiça por excesso de prazo na tramitação do processo. A vítima, de 27 anos, teve importante contribuição na prisão de Meyer. Em 28 de março de 2012, ela passava pela Avenida Francisco Deslandes, no Bairro Anchieta, Centro-Sul de BH, e o reconheceu como o homem que a estuprou em 1997, quando ela tinha 12 anos.

Depois da prisão de Meyer, outras denúncias contra ele, que ficou conhecido como o “maníaco do Anchieta”, foram apuradas pela Divisão Especializada de Atendimento à Mulher, ao Idoso e ao Portador de Deficiência (Demid). Foram concluídos 11 inquéritos contra ele, mas 10 acusações prescreveram e acabaram arquivadas quando enviadas à Justiça. No domingo, a jovem que abriu caminho para as investigações descobriu que ele foi solto em 10 de abril, fato que teve divulgação discreta pela Justiça.

“Eu estava consultando o processo on-line, para saber como estava o andamento. Fiquei então surpreendida ao constatar que o laudo de sanidade mental dele, pedido por sua defesa, tinha sido concluído no dia 4 deste mês e seis dias depois o colocaram em liberdade”, contou. Ontem, a jovem foi à 8ª Vara Criminal do Fórum Lafayette, em BH, e confirmou as informações do site do Tribunal de Justiça (TJMG). O acusado estava no presídio Inspetor José Martinho Drumond, em Ribeirão das Neves, Grande BH.

“Fiquei indignada, revoltada. Só de pensar que agora ele tem como saber onde moro, fico com medo. Hoje (ontem) não fui trabalhar e penso que não tenho mais como seguir com minha vida normal”, disse. “E o risco que outras mulheres estão correndo? Quem concedeu a soltura tem que saber do perigo que ele representa contra as mulheres. Tive tudo roubado, minha infância, minha juventude e agora mais essa tortura psicológica”.

Seis denúncias prescreveram


O advogado de Pedro Meyer, Lucas Laire, informou ontem que o ex-bancário está em casa, mas não revelou o endereço. Ele explicou que o motivo da soltura foi o excesso de prazo na fase de instrução do processo, que está suspenso aguardando o laudo de sanidade mental. A informação foi confirmada pelas assessorias do Fórum Lafayette e do TJMG, que disseram que os dois processos a que ele responde, na 8ª e 9ª varas criminais, acusado de estupro de duas crianças na década de 1990, correm em segredo de Justiça. No Fórum de BH, constam seis os processos arquivados por prescrição.

Laire disse ainda que a fragilidade das provas foi levada em consideração no habeas corpus concedido por unanimidade pelos desembargadores da 5ª Câmara Criminal. Segundo o advogado, o processo só será retomado com o agendamento das audiências de instrução, quando o laudo de sanidade mental estiver pronto. A jovem, além de alertar as outras vítimas sobre a soltura do ex-bancário, pretende contratar um advogado para tentar revogar o beneficio. “Quero continuar acreditando na Justiça”.

A indignação não se limitou à mulher que acusa Meyer. A secretária Ana Paula da Silva, de 23 anos, filha do porteiro Paulo Antônio da Silva, de 66, também está revoltada. O pai dela, sósia do ex-bancário, foi acusado e condenado a 16 anos pelo estupro de três meninas, de 12 e 13 anos, na década de 1990. Porém, com a prisão de Meyer, as vítimas recuaram e o reconheceram como o verdadeiro autor. “É inacreditável. Meu pai, inocente, ficou quatro anos e três meses atrás da grades, até que passasse ao regime semiaberto. O criminoso, com pouco mais de um ano já está nas ruas”.

DENÚNCIAS Em 28 de março de 2012, ao passar por uma avenida no Anchieta, uma mulher reconheceu o ex-bancário Pedro Meyer como o homem que a atacou quando criança, no Cidade Nova, Nordeste de BH. Ela o seguiu até o prédio em que morava e ele foi preso. Com a divulgação do caso, pelo menos outras 16 mulheres o denunciaram por estupro na década de 1990, quando eram crianças ou adolescentes. A defesa de Pedro entrou com pedido na Justiça de “incidente de insanidade mental”, em junho. No mês seguinte, a polícia concluiu as investigações e os processos no qual o ex-bancário é acusado foram remetidos à Justiça, mas alguns não foram adiante, por prescrição do crime. Em dezembro e janeiro foram adiadas audiências, já que o laudo de insanidade não estava concluído.

Dois sósias de Pedro Meyer, que segundo seus advogados foram confundidos com o ex-bancário e acusados de estupros, cumpriram parte de suas penas e foram libertados. O porteiro Paulo Antônio da Silva, inocentado pelas vítimas, teve decisão favorável no Tribunal de Justiça, em fevereiro, que extinguiu a acusação. O advogado do porteiro estuda pedido de indenização por danos morais a ele, que ficou preso quase cinco anos. Já a advogada Adriana Eymar, que defende o artista plástico Eugênio Fiuza, o outro sósia, obteve benefício para que ele cumpra a pena de mais de 30 anos em prisão domiciliar. Ele já ficou mais de 20 anos preso. Ela espera provar que Fiuza também foi confundido com Meyer.


fonte: em um relacionamento serio com o direito

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